quarta-feira, 27 de junho de 2012

A Questão da Sexualidade entre os Religiosos: Culpa e Responsabilidade




Caros amigos seguidores da Academia do Conhecimento,

O recente impeachment-Golpe do presidente Fernando Lugo é assunto importante da imprensa, mais importante até que a Rio+20, após seus pífios resultados. Lembrei-me então de um artigo de anos atrás que publiquei em um jornal universitário do Rio de Janeiro, tratando da sexualidade entre religiosos, de forma especial os problemas sexuais que Fernando Lugo vinha atravessando naquela época. Ocorreu uma súbita idéia, quase uma fantasia: será que o desempenho sexual do bispo-presidente teria, além de suas posições mais à esquerda, influenciado os conservadores que o destituíram do poder? Nessas trocas de poder súbito sempre existem "forças ocultas" como disse um ex-presidente brasileiro....


QUE PODE UMA CRIATURA

Que pode uma criatura senão,
entre outras criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Carlos Drummond de Andrade.





A denúncia de um envolvimento sexual e paternidade do presidente do Paraguai Fernando Lugo causou grande surpresa e reprovação. Foi o Fruto de um relacionamento amoroso ocorrido quando ainda era bispo da igreja católica no departamento de S. Pedro. Logo  depois  Lugo reconheceu o envolvimento e a paternidade de um menino de dois anos. Posteriormente houve pedido de paternidade para diversas outras crianças, não reconhecidas pelo governante.
A espinhosa questão despertou reações mistas na opinião pública e autoridades, de um lado reprovação enérgica, de outro lado, compreensão e mesmo elogios à sinceridade do ex-bispo na admissão de fatos tão difíceis para ele, a principal figura pública do país. Lugo viu-se frente a uma perda de prestígio inesperada. Em sua recente visita ao Brasil comentou-se que o visitante necessitava de uma vitória significativa nas questões da hidrelétrica de Itaipu para melhorar sua imagem pública fragilizada.

A posição de representante religioso do atual presidente paraguaio deve ser melhor detalhada por ser atualmente objeto de muitas confusões. Não é demais repetir que Fernando Lugo, logo após tomar posse, tornou-se oficialmente um ex-bispo católico. Foi ordenado sacerdote em agosto de 1977, tendo passado a  bispo em abril de 1979  tornando-se próximo do brasileiro Frei Betto, admirador de Leonardo Boff e da Teologia da Libertação. Foi designado membro da Equipe de Reflexão Teológica da Conferência Episcopal Latino-americana - Celam.  Em 2004, sem divulgar as razões para tal, a Igreja o aposentou do cargo provavelmente devido à sua proximidade com a Teologia da Libertação e à sua militância política. Em dezembro de 2006 Lugo apresentou sua renúncia à batina para melhor desempenhar seu papel de líder de oposição e já pensando em concorrer à presidência. O Vaticano se pronunciou apenas para aconselhar a Lugo que “refletisse melhor” e abandonasse a pretensão de entrar na política. O fato de ter renunciado á vida religiosa sem consultar à autoridade eclesiástica e, além disso, manter vida política fez com que recebesse do Papa Bento XVI uma suspensão a divinis, isto é, estaria proibido de exercer atividade de sacerdote, embora continuasse sendo considerado um bispo da Igreja. Posteriormente, quando Lugo foi eleito presidente, o Vaticano aceitou oficialmente seu pedido de desvinculação. Essa a posição real do presidente paraguaio frente à autoridade religiosa e aos seus cargos anteriores.
Procurou-se em certos relatos tentar inserir a surpreendente revelação do envolvimento de Fernando Lugo em um contexto da cultura paraguaia. Presidentes anteriores do país teriam em diversas ocasiões duas ou mais esposas, escapando de uma estrutura familiar tradicional. Não seria esta questão muito comum na psique cultural latino-americana em geral, inclusive no nosso Brasil? É bastante sabido- mas não muito comentado- que um conhecido político brasileiro de grande poder no passado e ainda hoje, tem duas esposas, duas famílias mesmo. Como costuma acontecer nesses casos, uma esposa é mais oficial, de classe social mais elevada, assumida publicamente, a outra aparecendo menos.
Parece também, sem afastar a gravidade da situação de Fernando Lugo, que sua posição de progressista e questionador das forças dominantes pode favorecer uma exploração política de sua situação transitoriamente frágil. 

A questão da experiência religiosa frente à sexualidade acompanha a raça humana desde tempos antigos, nas mais diversas culturas. Até mesmo em culturas diferentes do ocidente cristão o problema se coloca. Na antiga Índia de tradição védica há a idéia de que ciclo de vida humana tem a fase mundana, do casamento, filhos, realização material e só na fase tardia, o sanyasi (asceta) se retira para a floresta para meditar e procurar Deus. A história do povo de Israel revela com freqüência mulheres eróticas perturbando e seduzindo reis-heróis israelitas, como a filha do faraó e José, Betsabá e Davi, Dalila e Sansão. Essa freqüente ambigüidade da atração erótica e do perigo para profetas espirituais é uma constante na história humana. É como se o instinto sexual devesse ser contido ou transformado de alguma forma para haver uma genuína experiência religiosa.
Diversas ordens religiosas (mas não todas) proíbem aos seus membros serem casados. O protestantismo permite e aconselha mesmo o casamento entre seus pastores. O matrimônio é visto mesmo como uma instituição ordenadora da libido, mantendo o instinto dentro de limites socialmente organizados.
Essa organização parece realmente ser benéfica para os crentes e para os sacerdotes. As questões sexuais repetidas envolvendo autoridades conhecidas da igreja com sexualidade nos levam a refletir. (Penso nesse momento nos diversos casos de envolvimento sexual de padres com crianças,  entre os quais os da comunidade de Boston).
Na verdade Eros é um Daimon poderoso, como sentenciou Diotima no diálogo O Banquete, de Platão. Platão sugere que o Eros instintivo se transforme em phylia (o amor para a comunidade) e esse chegue à filo-sofia, o amor ao conhecimento. Serão essas metamorfoses possíveis ou mesmo desejáveis? No mesmo diálogo é relatado o mito  do nascimento de Eros:  Ele é filho de Pobreza (Pénya) e Recurso (Póros). Quando Eros nasce em nós, descobrimos que estamos pobres de algo mais que nos complete e encontramos sempre um recurso para alcançar vivências dessa completude. Será lícito enjaular ou encapsular a necessidade fundamental expressa pela sexualidade humana em uma instituição religiosa, por mais nobre que seja? 
            




Walter BOECHAT
Médico, Diplomado pelo Instituto C.G.Jung Zurich, Suíça, Doutor em saúde coletiva pelo Instituto de Medicina Social / UERJ, Membro-Fundador e Ex-Presidente da Associação Junguiana do Brasil- AJB.  Autor de: Mitopoese da Psique. Mito e Individuação. Vozes, 2ª Ed. 2009. Responsável pela revisão da tradução para o português para a edição brasileira do Livro Vermelho, de C. G. Jung, da Editora Vozes.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Resposta a Jó



"Resposta a Jó" é um dos mais importantes livros de Jung, certamente sua obra mais polêmica. Em sua velhice ele comentou que, se fosse reescrever algum de seus livros,  não mexeria em Resposta a Jó. Este o satisfazia completamente.
Jung afirmou que o livro reflete sua reação subjetiva, dando  expressão à "emoção devastadora que o espetáculo de selvageria nua e crua de divina crueldade produz em nós."
A Bíblia - Velho Testamento - relata que Deus (Yahweh) aceitou uma aposta proposta por Satanás, que alegou poder levar Jó a amaldiçoar Deus, desde que tivesse permissão para fazer o que quisesse com ele. Yahweh concordou, e Satanás tirou todos os bens de Jó, matou todos os seus filhos e trouxe-lhe uma doença dolorosa. Mas não teve êxito.
Sobre Jó, o Senhor declarou: "não há nenhum semelhante a ele na terra, um perfeito e integro homem, que teme a Deus e do mal se desvia."  Como Deus pode permitir tal injustiça com um homem que considerava "perfeito, integro e temente a Deus, e que desprezava o mal"? Como poderia Deus permitir a Satanás ferir Jó com tantas desgraças? Por uma simples aposta!

Como o livro foi escrito?
Jung resistiu a escrever este livro. Ele queria evitar mais polêmicas com teólogos, já que havia recebido muitas críticas ao seu último livro "Aion". Mas foi forçado a ir em frente. Jung disse em uma carta: "Se existe algo como o espírito agarrando você pela nuca, foi a forma como este livro veio à tona". Ele também disse que "O livro veio a mim durante a febre de uma doença." Segundo Edinger, um dos mais importantes discípulos de Jung, "o livro foi praticamente ditado a ele a partir do inconsciente e, logo que foi concluído, sua doença desapareceu."

A polêmica
Jung considera o Livro de Jó como um pivô na Bíblia. A tese de seu ensaio é que Deus sofreu uma evolução após sua discussão com Jó: foi obrigado a encarnar em Cristo e veio ao mundo para aumentar o seu nível de consciência.
Javé, o Deus do Antigo Testamento, é completo. Como tal, incorpora o bem e o mal. Usando as palavras de Jung, ele incorpora a sua sombra. Quando Ele encarna em Jesus, um Deus exclusivamente bom, ele projeta Satanás. Como resultado, Satanás, que aparece apenas quatro vezes no Antigo Testamento, é mencionado sessenta e seis vezes no Novo Testamento.
Um dos primeiros Padres da Igreja, Clemente de Roma, é citado como tendo dito que Deus dirige o mundo com Cristo na sua mão direita e Satanás em sua esquerda.
Os teólogos não poderiam aceitar a visão de um Deus inconsciente, ou que o Senhor poderia incorporar o mal, assim como o bem. A igreja considera que todo o bem vem de Deus e todo o mal dos seres humanos e, felizmente para Jung, a Inquisição já era coisa do passado.

A explicação
Jung se definiu como um psicólogo empírico e evitava qualquer ideia de que ele poderia estar tentando fazer teologia. Ele alegou que não poderia dizer nada a respeito de Deus, a grande força que criou o universo. Seu tema era o arquétipo que todo ser humano carrega dentro de sua psique, que ele chamou algumas vezes de Deus, outras vezes de Self ou imagem de Deus.
O verdadeiro Deus é incognoscível para a psique humana. Provavelmente apenas os místicos poderiam ter um contato direto com essa grande força, mas não poderiam descrevê-la com as limitadas palavras da linguagem humana. A Bíblia, composta por seres humanos, só poderia falar sobre essa imagem de Deus e nunca sobre o Deus Maior.
Mas os teólogos não quizeram ouvir as explicações de Jung. Eles ficaram indignados, e, quando a emoção vem à cena, a razão é ineficaz. Apesar de Deus ser incognoscível, e da Bíblia haver sido escrita por seres humanos, ainda que inspirada pelo inconsciente, eles não podiam aceitar que o Deus da Bíblia não era Deus, mas uma imagem arquetípica de Deus que todo ser humano mantém dentro sua psique, uma vez que o próprio Deus não pode ser captada por palavras humanas ou descrições.
E esta imagem de Deus definitivamente evoluiu ao longo do tempo. Como podemos dizer que o Deus do Antigo Testamento, irado e injusto, poderia ser o mesmo Cristo?
A estimativa comum é que o livro de Jung é um ataque apaixonado e implacável ao Deus do Antigo Testamento. Isso não é verdade. Psicologicamente falando, é uma tentativa de se chegar a um acordo com a imagem luminosa do Self e sua realidade dramática.
Roberto Lima Netto, autor de "O Pequeno Príncipe para Gente Grande", já na quarta edição, e "Os Segredos da Bíblia".
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www,HappinessAcademyOnline.org

domingo, 24 de junho de 2012

Leila Diniz e a Transformação Social

O texto ocorre pelos 40 anos de Morte de Leila Diniz. É o conteúdo de uma palestra quando da homenagem organizada por sua irmã, Ligia Diniz, na AARJ- Associação de Arte-terapia do Rio de Janeiro. 


 Fazem 40 anos que Leila Diniz nos deixou. Aos 27 anos, faleceu cedo, como convém a todo herói ou heroína. “Nenhum herói morre ao leito, de apendicite”, dizia o mitólogo Junito de Sousa Brandão, aquele que mais entendeu dos mitos e dos deuses. Leila foi nossa deusa da liberdade e dos desafios dos costumes estabelecidos. 


A cultura brasileira aguardava, em peso, de forma inconsciente, o aparecimento libertário de Leila Diniz. No período colonial, durante o impensável período de quatro séculos, a cultura brasileira sofreu o maior trauma de sua história: a escravidão, que até hoje deixa seus traços estereotipados no inconsciente cultural brasileiro, manifestando-se em racismo disfarçado, o que chamei racismo cordial. Bem próximo a nós, nos anos sessenta,um segundo trauma: a ditadura militar, a escravidão de todos, o cala boca do cidadão das ruas. Em período de vinte anos,  menor do que a escravidão, mas igualmente traumático para a nossa cultura, a ditadura militar, a manifestação visível do arquétipo do saturno devorador, constelou o puer libertário do movimento estudantil e também Leila Diniz. Leila se identificava bem com o movimento estudantil com seu viés político e de denúncia da repressão. O movimento de Leila também proclamou em alta a voz a necessidade de liberdade do corpo, da mulher, do desejo... das liberdades mais essenciais. 


 Sua entrevista em uma edição do jornal Pasquim de 1969 tornou-se um ícone revolucionário. Trouxe à luz a proclamação libertária de Leila, sua linguagem espontânea, livre de amarras bem educadas e do bom comportamento das patricinhas recatadas e tradicionais. Sabemos que O Pasquim vendeu nesse seu único número com a entrevista de Leila Diniz mais do que em toda sua história. A entrevista motivou o Decreto do Presidente Médici estabelecendo a censura prévia à imprensa. Na entrevista Leila utiliza um sem número de palavrões, substituídos por asteriscos. O uso de asteriscos foi decisão do Pasquim após a cantora Gal Costa pouco tempo antes ter usado a palavra tesão, o que trouxe inúmeros problemas para o jornal. Ainda na mesma entrevista acontece a famosa frase de Leila: A mulher pode muito bem amar uma pessoa e ir para a cama com outra. Já me aconteceu isso. Que par de frases mais terrível, mais imperdoável! Uma verdadeira ameaça à sociedade brasileira e aos bons costumes. 
O decreto presidencial que se seguiu foi curiosamente chamado de decreto Leila Diniz e assim se tornou conhecido. 
Podemos brincar um pouco com a expressão Decreto Leila Diniz. Porque o decreto do presidente não se chamou Decreto Médici, ou Decreto No ...tal, ou Decreto dos Bons Costumes, ou qualquer outro nome? Nomeando o Decreto pela personalidade que o provocou, se está ao mesmo tempo recordando Leila Diniz, enfatizando a sua importância, tomando-a como a referência que de fato é. É um processo mental descrito por Freud como denegação, na tentativa de se negar algo perigoso para os valores da consciência, afirma-se mais ainda esse conteúdo a ser negado. Podemos dizer: Eu Decreto: Leila Diniz! Leila Diniz veio para ficar, para re-significar a cultura, para transformar! De agora em diante, a presença de Leila em todos está Decretada. O próprio nome da proibição do Mito enfatiza sua presença e sua força atuante na sociedade. 


A cultura brasileira seguia grosso modo a cultura europeia com seu padrão patriarcal de controle. Isso apesar de seus mitos culturais próprios, a carnavalização, a malandragem, a corrupção em larga escala e outros estereótipos sociais próprios das culturas latinas. Entretanto, a mulher comum continuava agrilhoada nas correntes da repressão patriarcal. Todo o movimento cultural que teve início no ocidente nos anos `60 com a descoberta da pílula anticoncepcional, a tecnologia dos alimentos, anunciava a liberdade da mulher como figura decorativa da casa, cuidadora específica dos alimentos e dos filhos. Os jovens saíam às ruas de Paris em 1968 com diversas reivindicações, as mulheres também atuavam nessa época para revolucionar a sociedade na qual ocupavam papel secundário. Mas a mulher brasileira permanecia como que inconsciente dessas possibilidades novas que se agitavam no inconsciente cultural e procuravam expressão. Todo valor no inconsciente necessidade encontrar um veículo de expressão para a consciência coletiva, um veículo que transmita o novo valor para a cultura. Leila Diniz foi a escolhida para ser o Mito símbolo libertário, a expressão dos novos valores da mulher. 


 Leila foi como um cometa fulgurante em noite escura, durante sua rápida passagem entre nós. Tornou-se um Mito, no sentido mais essencial do Mito, o Mito como verdade. O Mito tem uma polissemia de significados que escapa à razão imediata. O Mito Leila transforma a cultura com novas mensagens, novos comportamentos, que a princípio, escandalizam, depois são admirados, imitados, acolhidos, tomados como modelo de comportamento. Como disse Rita Lee muito acertadamente. : toda mulher tem seu lado Leila Diniz... 


Como se dá esse processo de uma pessoa como Leila encarnar valores coletivos, tornando-se um Mito cultural de referência? Como dizíamos antes, os valores libertários que Leila encarnou já aguardavam no inconsciente cultural brasileiro um portador que os revelasse. Essa revelação não poderia ser feita simplesmente pela afirmação teórica do novo papel da mulher como uma tese de Doutorado, ou uma produção teórica de antropologia social. Esses valores teriam que ser antes de tudo, encarnados, vividos em três dimensões, trazidos à vida de forma transparente e convicta. Leila Diniz foi a personificação perfeita desses valores. Além do mais, como atriz de sucesso em diversos filmes e novelas de televisão tinha grande visibilidade. Em toda sua vida foi a afirmação direta, plena, totalmente verdadeira dos valores da liberdade de escolha, do amor acima das convenções e do direito pleno às livres escolhas e ao desejo. Quais seriam basicamente os valores do Mito Leila para a nova mulher brasileira? Uma nova política do corpo, um ganho de liberdade sobre o próprio prazer sexual da mulher. Como dizia Leila Diniz: transo de manhã, à tarde e à noite. Ou ainda: Minha saúde mental é perfeita. Não evito o amor nunca. 
Embora fosse a porta-voz da liberdade sexual, Leila deixava bem claro que: 
Não sou contra o casamento, Mas muito mais do que representar ou escrever, ele exige dom. 
 Essa fala de Leila mostra sua inteligência e maturidade excepcionais para sua idade. Revela, além disso, suas opiniões independentes, e sua rebelião contra o casamento vivido apenas como fachada, uma forma de acomodação do desejo em prol do conforto material. Casamento é coisa muito séria e exige um dom especial. 
 As famosas fotos que tirou em estado de avançada gravidez na praia de Ipanema são também libertárias em relação ao corpo. O sol e a praia seriam bons para sua filha, ela pode usufruir desse prazer da maternidade sem o recato tradicional, tímido, quase envergonhado das grávidas até então. A gravidez de Leila é uma gravidez alegre, orgulhosa, desafiadora até. Uma manifestação de sua forte personalidade. A mulher nos novos tempos não está mais impedida do acesso ao prazer sexual e o homem não deve agora se preocupar não somente em ter prazer mas também em dar prazer... Sua companheira também participa do jogo do prazer como uma parceira de trabalho e gozo. Era necessário alguém dizer essas verdades claramente, viver essa denúncia, personificar a mudança. Por isso Leila transcendeu os limites da personalidade individual e tornou-se um Mito da cultura brasileira. 


Leila não se deteve apenas nas questões da sexualidade. Suas declarações e frases famosas passam a imagem de alguém além de seu tempo, uma característica daqueles que encarnam um Mito. Por vezes Leila foi muito psicológica falando da sombra e da persona: 
Todos os cafajestes que conheci na minha vida eram uns anjos de pessoas
Era também uma crítica feroz aos modismos e atitudes superficiais sem consistência: 
A mulher brasileira deveria ir menos ao psicanalista e mais ao ginecologista
Falava também da solidão necessária para aquele que busca uma existência de real significado. A heroína que traz transformação caminha só, pois sua percepção das coisas é pessoal e única:
 Sei que me arrisco à solidão, se é isso que me perguntam. Mas eu sei viver assim! 
Sempre andei sozinha. Me dou bem comigo mesma
Em todos os valores, o maior de todos, aquele que centralizava todas as suas referências: a liberdade. 
Sobre minha vida, sobre meu modo de viver, não faço o menor segredo: sou uma moça livre. 
 No final de sua vida plena, a maternidade de sua filha Janaína, fruto de seu casamento com cineasta Rui Guerra, ocupa papel bastante importante e responsável. Leila Diniz veio a falecer aos 27 anos em acidente avião da Japan Airlines próximo a Nova Delhi, em 1972. Em seu diário pessoal achado no local do acidente foram encontradas suas últimas reflexões. Leila estava preocupada com Janaína, que devido a suas inúmeras viagens ficava tempo longo demais com a babá: Breve a babá se tornará mãe e a mãe se tornará babá, refletiu Leila antes de morrer. Uma preocupação humana, típica da mulher atual em seu novo papel de mãe e profissional procurando a integração criativa dos dois papéis. Aqui aparece a mulher plena da contemporaneidade, exemplo de Leila Diniz, mulher plenamente realizada e íntegra aos 27 anos, belíssimo exemplo de processo de individuação dentro da acepção de Jung, heroína desbravadora de novos caminhos para a mulher e também para o homem brasileiro.


Walter Boechat
Analista Junguiano
Escritor.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Relação de posts da Academia ate 16/06/12


Amigas e amigos junguianos
Como a lista de posts cresceu bastante, segue uma relação com resumos e links.
1. Conhece a ti mesmo
Na entrada do Templo de Apolo em Delfos está escrito: ."Conhece a ti mesmo". Este conselho foi importante para o grego antigo, mas também para todos nós no mundo de hoje. Os seres humanos precisam aumentar seu nível de consciência, de suma importância na busca de uma vida mais plena e mais feliz, mas também para a própria sobrevivência da nossa civilização. Leia mais em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2011/11/conhece-te-ti-mesmo.html.
2. Você gostaria de falar com os seus demônios?
Precisamos dialogar com nossos complexos interiores, personificados pelos nossos demônios. É um questão de saúde mental. Podemos fazer isso usando o método junguiano de imaginação ativa. Leia mais em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2011/11/voce-gostaria-de-conversar-com-seus.html.
3. O Drama no cinema
Como o cinema, ou a literatura pode nos ensinar lições de vida? Leia mais em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2011/11/o-drama-no-cinema.html
4. Sergio Brito e Jung
O encontro de Walter Boechat com esse nosso grande ator, fã assumido de Jung. Leia mais em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/02/sergio-britto-e-jung.html
5. Jung: "Eu não acredito em Deus, eu sei."
Jung na rede "Face to Face" programa da BBC, disse que a frase título deste post. Como interpretar isso? Leia mais em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/03/jung-eu-nao-acredito-em-deus-eu-sei_01.html.
6. Podemos viver uma vida espiritual sem filiação a uma igreja
Como você pode desenvolver uma vida espiritual sem o apoio de uma igreja estabelecida. Leia mais em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/03/podemos-viver-uma-vida-espiritual-sem.html
7. Mal no cristianismo e na psicologia junguiana
Como é mal visto no cristianismo e como essa visão difere dos conceitos de Jung. As visões conflitantes do mal no cristianismo e em Psicologia Junguiana é discutido em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/03/o-mal-no-cristianismo-e-na-psicologia.html
8. Alcoolismo e Espiritualidade
O programa de AA salienta que é preciso a ajuda de uma força superior - você pode chamá-lo Deus, se você quiser - para ganhar a guerra contra o alcoolismo. Por quê? Ir para www.link para a explicação. O post também discute a correspondência de Bill W., co-fundador de Alcoólicos Anônimos AA, e Jung. Atributos projeto de lei para Jung um papel fundamental na fundação da AA. Leia mais em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/03/alcoholism-and-need-for-spiritual.html
9. Qual o interesse de Deus no sofrimento do homem?
Antonio Aranha discute nesse post o tema do sofrimento infringido por Deus ao homem usando a historia bíblica de Jó. Ler mais em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/04/qual-o-interesse-de-deus-no-sofrimento.html
10. O Summun Bonun
Antonio Aranha discute esse tema, que desenvolveu em "O Livro Grego de Jó". Ler mais em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/04/o-summum-bonun.html
11. Era Jung um místico?
Jung sempre teve a preocupação de ser visto como um cientista e psicólogo empírico. Entretanto, muitos o acusavam de misticismo, devido às suas incursões pela questão religiosa. Nos dias de hoje, isso poderia ser considerado um elogio, mas não em meados do século XX. Leia mais em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/04/era-jung-um-mistico.html
12. Vamos alavancar Jung?
Estou convencido da importância de um trabalho concentrado para popularizar Jung no Brasil. Isso é bom para os analistas junguianos, mas também para todos os brasileiros. Essa foi a ideia na criação da Academia do Conhecimento. Leia mais em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/04/vamos-alavancar-as-ideias-de-jung-no.html
13. O Pequeno Príncipe para Gente Grande
Nossas universidades, infelizmente, ainda dão muito pouco espaço para as ideias de Jung. Meu objetivo ao escrever estes livro foi popularizar Jung. Os livros são escritos principalmente para leigos, com o objetivo de atingir um grande público. Por esse motivo, negociei com a editora um precinho bem atrativo. Leia mais em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/05/amigas-e-amigos-junguianos.html
14. A Evolução de Deus
Jung disse que Deus tem sofrido transformações ao longo do tempo. Você quer saber mais?Leia em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/06/evolucao-de-deus.html
15. Principais diferenças no pensamento de Freud e Jung
Jung foi um discípulo de Freud até que discordou. As principais questões que causaram o colapso são explicados em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/06/principais-diferencas-no-pensamento-de.html.
16. Freud e Jung: diferentes visões sobre religião
Em religião, esses dois gênios tem ideias tão diferentes como a água e o vinho. Leia mais em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/06/freud-e-jung-diferentes-visoes-sobre.html
17. Em busca da felicidade: podemos escolher entre a psicose ou a sabedoria?
Jung viveu uma crise nos 1913-1917 anos, logo que se separou de Freud, a quem considerava seu pai espiritual. Nesse período que, se não houvesse conversado com seus demônios, corria o risco de sofrer um grave problema psicológico. Como resultado dessa crise, ele escreveu "O Livro Vermelho", uma obra-prima de imaginação ativa, e desenvolveu a maior parte de suas teorias psicológicas. Leia mais em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/06/em-busca-da-felicidade-podemos-escolher.html.
18. Vida Espiritual sem filiação a uma Igreja
O ser humano precisa desenvolver uma vida espiritual. Porém, não precisa se ligar a uma Igreja. Leia Mais em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/06/vida-espiritual-sem-filiacao-uma-igreja.html,
19. Truques do inconsciente
Os seres humanos pensam que são racionais. Cuidado! Isso é apenas parcialmente verdadeira. Quando dominado por uma emoção forte, tomamos ações que podem ser motivo de vergonha. Leia mais em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/06/truques-do-inconsciente.html.
20. Cura espiritual: Você pode acreditar no inacreditável?
Os seres humanos tendem a ignorar qualquer informação que não pode ser explicada racionalmente. Muitas coisas acontecem no mundo que a ciência não pode explicar, ou que não coincide com um fato físico. Leia mais em http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/06/cura-espiritual-voce-pode-acreditar-no.html

sábado, 16 de junho de 2012

A cura espiritual: você pode acreditar no inacreditável?


Durante a primeira metade da minha vida, eu era absolutamente racional, nunca acreditaria em casos que não puderam ser explicados pela ciência, pelo racional. Eu considerava simplesmente como mágica alguns fenômenos paranormais. Os mágicos profissionais realizam proezas que não podemos explicar, mas que não são sobrenaturais.
O Brasil, um país onde os europeus misturaram-se com os africanos e os índios nativos, estes fenômenos paranormais são bastante frequentes, ainda que eu não os considerasse com tais. Isso mudou para mim quando eu tinha 35 anos e frequentei um curso de controle da mente. Quando terminei o curso, havia mudado minha forma de ver o mundo. Era uma pessoa diferente, convencida que existem alguns fenômenos que a ciência não pode explicar, e que podem ser chamados de paranormais.
Vou lhes contar um dos muitos episódios estranhos que eu conheci. Um amigo tinha uma dor nas costas terrível. Os médicos prescreveram uma cirurgia da coluna, que não resolver o problema. Na verdade, a dor piorou após a intervenção, a tal ponto que ele tinha que dormir no chão, porque mesmo um colchão duro lhe era insuportável.
Enquanto estava de férias na região amazônica, o guia do meu amigo sugeriu que ele consultasse uma rezadeira local. Meu amigo, um católico fervoroso, não acreditava em tais artes, mas o guia insistiu, contando-lhe alguns milagres que esta velha senhora havia feito. Meu amigo foi visitar a rezadeira, sem acreditar, mais levado pela curiosidade.
Eles chegaram em uma área muito pobre de uma pequena vila, onde a curadeira vivia em uma casinha pobre. Depois de realizar alguns ritos, ela beijou coluna do meu amigo na área que mais doía, tirando da boca um pequeno pedaço de osso que ela alegou ter extraído da coluna vertebral do meu amigo.
Você acredita que este osso foi extraída da coluna do meu amigo? Eu não. Ela pode ter colocado o osso em sua boca. Ou será que ela o materializou?. É bem documentado o caso de um guru indiano, Sai Baba, que materializada objetos em sua mão. Porém, acho que aquele osso era um truque para impressionar o paciente.
O fato é que meu amigo saiu da consulta completamente curado, e não teve problemas nas costas a partir de então. Isso não pode ser negado.
O Brasil é um país místico, e sei de vários outros milagres realizados em todo o país. A Índia é uma terra com gurus espirituais em estágios mais avançados, mas eles geralmente não se envolvem em curas. Acreditam em reencarnação e não dão importância à vida. As Filipinas é provavelmente o único país capaz de rivalizar com Brasil neste assunto. Não posso falar da África, pois não conheço a situação por lá.
Várias fantásticas curas foram documentados em todo o Brasil. Eu, um PhD pela Universidade de Stanford, nunca pensei que pudesse acreditar nisso. Hoje sou uma pessoa ex-racional, se é que posso usar esse termo. Acredito que algumas pessoas especialmente dotadas, xamãs por exemplo, podem realizar curas milagrosas. Fiz uma extensa pesquisa sobre xamanismo para reunir material para escrever meu romance, um thriller psicológico, "O Xamã Dourado", e encontrei na literatura sobre o assunto casos documentados de curas xamânicas que antes eu considerava inacreditáveis.
E você? Você pode acreditar no inacreditável?

Roberto Lima Netto, autor de "O Pequeno Príncipe para Gente Grande" e "Os Segredos da Bíblia" livros junguianos para difundir os conceitos da psicologia junguiana entre os leigos.

Truques do Inconsciente


Estava dirigindo meu carro a caminho de casa quando vi uma cena que me chamou a atenção. Dois homens talvez com 30 ou 40 anos de idade, discutindo, ofendendo uns aos outros, um incidente quase se transformando em uma briga mais séria no meio da rua. Esta cena foi causada por uma colisão pequena com mínimos danos, mas o conflito estava acirrando-se de tal forma que poderia terminar com graves consequências. De fato, um dos litigantes foi para o seu carro e voltou com uma arma. Vale ressaltar que ambos pareciam ser pessoas responsáveis, bem de vida, dirigindo carros caros. Por que arriscavam suas vidas por causa de um pequeno acidente?
Dizem que o homem é um ser racional. Isso é verdade? Quando você está dominado por uma emoção, você não é racional. A Psicologia Junguiana ensina que o nosso Ego, o diretor da parte consciente de nossa psique, não é a única personalidade que vive dentro de nossa mente.
"Sybil", um livro escrito por Flora Rheta Schreiber, psiquiatra, descreve o caso de uma mulher com dezesseis personalidades. Este livro é uma ficção baseada em um caso real. Algumas personalidades dentro da  psique de Sybil não conheciam outras que viviam debaixo do mesmo teto,da mesma psyche, e estavam sempre em guerra, uma vez que os seus objetivos e gostos eram completamente diferentes. Evidentemente, este é um caso extremo, mas não podemos descartar o fato de que o nosso Ego não é o rei da colina dentro de nossa mente.
A psique humana, de acordo com a psicologia junguiana, é composta por três partes: o consciente - Ego - e o inconsciente que está dividido entre o inconsciente pessoal e o coletivo. A parte consciente, o ego, é o que muitas pessoas consideram ser a psique, ou, se você preferir, a personalidade total. Isto está longe da verdade.
A psique tem uma camada inconsciente, fora do controle do Ego. No inconsciente coletivo, são armazenadas as informações herdadas de todos os seres humanos desde os primeiros humanos apareceram na Terra. Os instintos e os arquétipos fazem parte do inconsciente coletivo. Este inconsciente coletivo foi um dos motivos da separação entre Freud e Jung, como foi discutido em post anterior. http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/06/principais-diferencas-no-pensamento-de.html
O fato é que, quando dominado por uma emoção, o Ego pode perder o controle. Isso levou Joseph Campbell, o grande mitólogo do XX século e discípulo de Jung a dizer: Minha definição de demônio é um anjo que não foi reconhecido ". E com isso eu os envio a outro dos posts deste blog: Você gostaria de falar com os seus demônios? http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2011/11/voce-gostaria-de-conversar-com-seus.html
Felizmente este incidente se acalmou quando um amigo em comum entrou na discussão, e nada de grave aconteceu, mas incidentes fatais acontecem em todo o mundo devido a discussões de trânsito tolas.
Se você gostou desse post, envie-o para seus amigos. . Quem sabe, difundindo as ideias de Jung, estaremos ajudando a melhorar a humanidade, a tornar os seres humanos mais felizes?

Roberto Lima Netto, autor de "O Pequeno Príncipe para Gente Grande" e "Os Segredos da Bíblia", livros junguianos escritos em linguagem simples para que leigos possam entender as ideias de Jung.

Vida espiritual sem filiação a uma igreja


O homem moderno está se afastando do espírito. Ele entronizou um novo deus em sua vida - o dinheiro. Enquanto isso, as igrejas cristãs vão perdendo terreno nos países ocidentais, e a vida espiritual é, cada vez mais, relegada ao porão. Alguns resignam-se a uma religião formal, ir às missas, aos cultos e rituais, se iludindo que isto é suficiente. Vivem tentando não pensar sobre a vida, tentando não perceber que suas existências estão vazias. Outros optam por abraçar religiões orientais - Budismo, Hinduísmo e outros.
Nietzsche disse que "Deus está morto." De acordo com Jung, o problema do nosso tempo é que os símbolos do cristianismo estão desgastados. Em suas memórias, ele relata sua visita aos índios Pueblos nos EUA. Eles adoravam o sol, e não entendiam a razão de o homem branco querer interferir com a sua religião. Estavam convencidos de que, se não rezassem para o sol, ele deixaria de se levantar, e a humanidade pereceria. Eles tinham um objetivo claro na vida: salvar a humanidade.
O objetivo de muitas pessoas no século XXI, nesta época de materialismo exacerbado, é ganhar mais dinheiro para comprar um carro novo, para comprar uma casa nova, para comprar sei lá o que. Como este objetivo é tão mais pobre quando comparado com o dos índios Pueblo, cujo objetivo é salvar a humanidade. Mesmo se você não acreditar que os índios Pueblo estão realmente salvando a humanidade, eles acreditam, e é isso o que importa para dar sentido as suas vidas.
As pessoas modernas, sem acreditar nas igrejas, preenchem suas vidas com a busca da riqueza, ou com a luta por uma causa. Mesmo que a cause seja meritória - ecologia, por exemplo - Isso não pode substituir a necessidade de progredir em sua jornada espiritual. Afinal, a razão de nossa vinda à Terra é crescer espiritualmente.
Saint Exupery, em seu famoso livro, "O Pequeno Príncipe", conta a estória do acendedor de lampiões, que passou a vida apagando e acendendo as lâmpadas, do astrônomo que queria ter mais e mais estrelas, e passava o dia catalogando-as, do rei de um asteroide que não tinha súditos. Todos enchiam seu tempo, evitando pensar sobre o propósito da vida. Quantos seres humanos adotam essa prática, trabalhando dezesseis horas por dia para ganhar mais e mais dinheiro que eles não podem levar à tumba, evitando pensar na vida. Se parassem para pensar, eles iriam descobrir que suas vidas estavam vazias e poderia entrar em depressão.
Jung disse que não conhecia qualquer pessoa vivendo uma crise psicológica na segunda metade da vida que conseguisse resolver seu problema sem atenção à vida espiritual, sem viver uma vida simbólica.
Os seres humanos podem e devem cultivar a vida do espírito, independentemente de se filiar a uma igreja. Você não precisa ser um monge, entrar para um convento, deixando o seu trabalho e sua empresa. Até os monges tem uma vida ativa, dedicando-se à agricultura, à culinária, realizando tarefas rotineiras, mas também reservando tempo para as orações e meditações.
Como viver uma vida espiritual, uma vida simbólica? Jung aconselhou alguns clientes a retornar à prática de uma religião institucional, mas esta receita não serve para todos. A desconfiança nas igrejas é muito difícil de ser revertida; quando os deuses deixam o Olimpo, o retorno é extremamente difícil.
Os seres humanos precisam, para manter uma vida espiritual ativa, a cultivar uma vida simbólica. Como? Atenção aos sonhos, pratica de imaginação ativa, da meditação. Isso é viver uma vida simbólica. A oração também é uma boa receita, uma forma de meditação.
Felicidade. Esta meta que tantos buscam pode ser conseguida pelo desenvolvimento da vida do espírito.

Roberto Lima Netto, autor de "O Pequeno Príncipe para Gente Grande" e "Os Segredos da Bíblia", livros junguianos que objetivam  popularizar as ideias de Jung. Quem sabe, com isso conseguimos melhorar o mundo?

Em busca da felicidade: Podemos escolher entre a psicose ou a sabedoria


Desde cedo, Carl Jung teve uma vida difícil. Quando criança, tinha sonhos estranhos e visões. Seu pai, um pastor que perdeu sua fé e lutou para recuperá-lo, não foi um bom exemplo. Uma receita para a psicose.
Jung foi fortemente atraído pelas ideias de Freud. Quando foi para Viena para conhecer Freud, a primeira reunião entre os dois durou mais de oito horas. Não só foi Jung atraído pelas ideias de Freud, mas Freud também ficou impressionado com o seu jovem visitante. Freud considerava Jung como seu sucessor.
Quando eles separaram seus caminhos. (Pelas razões expressas em um post anterior http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/06/principais-diferencas-no-pensamento-de.html) Jung sentiu-se como se tivesse perdido um segundo pai, como se o chão sob seus pés tinham desaparecido. Ele entrou em um período difícil e, para manter sua sanidade mental, ele teve de realizar um feito heroico. Todas as tardes, depois de manter uma vida normal de trabalho atendimento a clientes, Jung fechava-se em seu escritório e fazia o que hoje é conhecido como Imaginação Ativa. (explicado em um post anterior - http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2011/11/voce-gostaria-de-conversar-com-seus.html)
Este processo foi vivido intensamente de 1913-1917, mas continuou até 1930, 17 anos - um processo de auto-análise e terapia relatado no "Livro Vermelho", um trabalho encantador de arte com desenhos feitos à mão e escrita em belas letras desenhadas.
Neste livro, Jung conversa com seus "Daimons" e registra o primeiro exemplo de Imaginação Ativa. Mais tarde ele afirmou que toda a sua obra futura, seus conceitos e métodos, foram incubados neste período, quando as sementes da sua obra foram plantadas.
O "Livro Vermelho" não é um livro fácil, pois relata a luta de Jung para se libertar de sua psicose latente. Neste processo de Imaginação Ativa, descrito na obra, Jung se encontra, reequilibra seu Ego e faz as pazes com seu Self.
Se você esta em busca da felicidade, quem sabe um relacionamento com seus daimones através da Imaginação Ativa pode ajudá-lo?
Você concorda? Você está convidado a postar seus comentários.

Roberto Lima Netto é autor de "O Pequeno Príncipe para Gente Grande" e "Os Segredos da Bíblia", dois livros cujo objetivo é propagar as ideias de Jung para leigos. Quem sabe podemos ajudar a construir um mundo melhor?

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Freud e Jung: diferentes visões sobre religião


Já discorremos sobre as diferenças básicas do pensamento de Freud e Jung, em um post anterior: http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/06/principais-diferencas-no-pensamento-de.html.
Neste post vamos discutir os pontos de vista opostos com relação à religião.
Alguns dos escritos de Freud sobre a religião são:
§ "A religião é uma ilusão que deriva sua força do fato de que ela atende aosnossos desejos instintivos." - Sigmund Freud, Novas Conferências Introdutórias sobre Psicanálise, 1933.
§ "A religião é comparável a uma neurose da infância." - Sigmund Freud, O Futuro de uma Ilusão, 1927
§ A religião "é uma tentativa de obter controle sobre o mundo sensorial em que são colocados, por meio do desejo no mundo, que nós desenvolvemos dentro de nós como resultado de necessidades biológicas e psicológicas. [...] Se alguém tenta atribuir à religião seu lugar na evolução do homem, não parece tanto ser uma aquisição duradoura, como um paralelo à neurose que o indivíduo civilizado deve passar em seu caminho desde a infância até a maturidade. "- Sigmund Freud, Moisés eo monoteísmo, 1939
§ "A coisa toda é tão patentemente infantil, tão estranha à realidade, que para qualquer pessoa de bem é penoso pensar que a grande maioria dos mortais nunca será capaz de superar essa visão da vida. É ainda mais humilhante descobrir como um grande número de pessoas vivendo nos dias de hoje, que não pode deixar de ver que essa religião não é defensável, e tentam defendê-la peça por peça em uma série de ações de retaguarda lamentáveis" - Sigmung Freud, Civilização e Seus Descontentes, 1930
Estas declarações mostram que Freud tinha uma visão materialista do mundo, e considerava a religião como uma ilusão para manter as massas felizes, muito em linha com o pensamento comunista. Diga-se, a bem da verdade, que Freud não simpatizava com o comunismo.
De acordo com Jung, a alma humana precisa de religião para viver uma vida psicologicamente significativa. Em oposição ao pensamento de Freud, Jung considerava a religião extremamente importante. Ele afirmou que não conhecia qualquer pessoa de meia-idade sofrendo de depressão (o que os povos primitivos chamavam de perda da alma), que tenha conseguido se recuperar sem tomar uma posição espiritual, mesmo que esta não envolvesse uma igreja estabelecida. Na verdade, ele sugeriu a vários de seus pacientes um retorno a sua religião da família.
Jung foi considerado um místico por alguns, um gnóstico por outros, um inimigo da igreja por muitos, um amigo por outros. Ele escreveu vários livros e artigos sobre o assunto, e seu grande interesse o levou a estudar as religiões orientais, Alquimia, Gnosticismo e Cristianismo. Ele enfatizou que não era um teólogo, mas um psicólogo empírico tentando entender a psique dos seres humanos.
Jung afirmava que os símbolos que sustentaram o mito cristão estavam evelhecendo, e que o Vaticano devia tomar medidas para renová-los.
Jung tentou influenciar alguns padres, como seu amigo Padre White, um teólogo que rompeu com ele quando Jung escreveu "Resposta a Jó". Este livro foi duramente criticado por muitos teólogos que ocupavam posições de destaque na hierarquia da Igreja Católica, pois defendia a tese da Evolução de Deus, discutida em nosso post: http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/06/evolucao-de-deus.html
Neste importante trabalho, Jung afirmou que, após a discussão com Jó, Deus teve que encarnar como um ser humano, Jesus, para evoluir, para ganhar mais consciência. Embora Jung tivesse o cuidado de explicar que ele estava falando sobre a imagem de Deus que os seres humanos tem em suas psiques, a Igreja não aceitou as suas ideias e os esforços de aproximação de Jung falharam. Como resultado, a influência da Igreja continua a diminuir, de tal forma que no mundo de hoje, altamente materialista, o Deus recém-entronizado é o dinheiro, ou o ouro.
Jung era frequentemente acusado de místico por seus detratores, enquento ele persistia em afirmar que era apenas um psicólogo empírico. Era Jung um místico? Este é o tema do post: http://www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.br/2012/04/era-jung-um-mistico.html.
Você concorda? Venha discutir essas idéias e movimentar nosso blog que objetiva disseminar as ideias de Jung e a psicologia analítica tão esquecida pelas nossas universidades. Você está convidado a fazer seus comentários.
Roberto Lima Netto, autor de "O Pequeno Príncipe para Gente Grande" e "Os Segredos da Bíblia", ambos já editados nos Estados Unidos www.amazon.com/author/rlimanetto


terça-feira, 12 de junho de 2012

Principais diferenças no pensamento de Freud e Jung


Você conhece as diferenças básicas entre as escolas psicológicas de Freud e Jung? Neste post vamos focalizar algumas das principais questões que causaram o rompimento d associação entre estes dois grandes gênios do século XX.
Freud definiu o inconsciente como uma coleção de material pessoal reprimido, e Jung foi mais longe. Ele dividiu a psique em três partes: a consciência (ego), o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo. Esta última parte foi uma razão importante para sua quebra da associação entre os dois. Embora Freud não negasse a existência dos instintos, ele não aceitava a profundidade proposta por Jung para o inconsciente coletivo.
Jung explicou que, semelhante à evolução do corpo humano que guardam vestígios de organismos ancestrais (o cóccix, por exemplo), a psique humana carrega toda a história anterior do desenvolvimento humano. Freud não quiz aceitar tal afirmação ampla, e eles se separaram quando Jung publicou seu livro "Símbolos de Transformação", em 1912, época em que Jung tinha 37 anos. A partir de então, Jung, que havia sido escolhido por Freud para ser o seu sucessor, começou uma carreira solo, e suas teorias continuaram a divergir.
Freud considerava a libido sexual o motor de uma pessoa. Jung contestada, postulando que a libido sexual era uma força poderosa na psique humana, mas não a única. Quando você é jovem, a libido sexual pode governar a sua vida, mas, à medida que envelhecemos, outros fatores adquirem importância.
Jung considera a psique humana como, por natureza, religioso. Na verdade, ele fez deste ponto um foco importante de exploração. Jung era filho de um pastor e estudou, além do cristianismo, as religiões orientais, Alquimia, Gnosticismo, Mitologia, I Ching, astrologia, e quase tudo o que poderia ser classificado como ciências ocultas. As explorações e descobertas de Jung elevaram o nível da psicanálise bem acima do desenvolvimento original de Freud.
Jung não repudiava a importância de Freud. Antes de Newton, não poderia haver Eistein. Eu não sei se Jung poderia ter alcançado as alturas que atingiu  se não pela influência inicial de Freud.
Na interpretação de sonhos, Freud considerava qualquer objeto pontiagudo como um símbolo do pênis, enquanto Jung considerava que até mesmo o pênis poderia simbolizar algo mais, dependendo do conteúdo do sonho. Criatividade, por exemplo.
Outra grande diferença entre estes dois gênio tem a ver com a maneira como eles viam a vida. Freud era ateu e tinha uma visão muito crítica sobre religião. Jung insistia que os seres humanos devem prestar atenção à sua vida espiritual. A questão religiosa é de tal importância que vamos tratá-la em um post separado.
Tal era é a distância entre os conceitos e ideias desses dois gênio que Jung deu um nome novo para a sua escola psicológica, para substituir a psicanálise freudiana. Ele o chamou de psicologia analítica.
Você concorda? Gostaria de convidá-lo para postar suas opiniões.
Roberto Lima Netto
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Rlimanetto@hotmail.com

sexta-feira, 1 de junho de 2012

A Evolução de Deus


Deus mudou ao longo do tempo. Antes que você fique bravo comigo por esta declaração ousada, deixe-me explicar o que quero dizer. O Deus real, a grande força que criou o Big-Bang, ou, se preferir, criou o mundo em seis dias como disse em Gênesis, não pode ser compreendido pela mente humana. Esta Força é incognoscível, bem acima racional humano. Provavelmente os únicos que podem entrar em contato esta grande força são os místicos, mas a linguagem humana os impede de comunicar eficazmente as suas experiências.
O Deus de que podemos falar é o que Jung chamou de "Imagem de Deus" que temos dentro de nossa psique. Portanto, quando falamos sobre a evolução de Deus, referimo-nos à imagem de Deus, ou, usando um termo junguiano, ao Self. Ao longo da história da raça humana, podemos discernir seis grandes períodos na evolução da imagem de Deus.
O primeiro - Animismo - estava presente durante a fase de caça e coleta da civilização. Nossos ancestrais primitivos viam espíritos em toda parte: animais, árvores, montanhas, rios pedras.
Um segundo - Matriarcado - veio à tona quando a agricultura foi desenvolvida. A terra nutritiva, responsável pelas culturas era a Grande-Mãe, era a divindade.
Um terceiro - Politeísmo - correspondia ao desenvolvimento das cidades e das guerras. O elemento masculino cresceu em importância, e a humanidade voltou-se para um politeísmo dominado por deuses masculinos. De atenção especial para a civilização ocidental são os deuses gregos, governados por Zeus.
Um quarto - Monoteísmo Tribal - começou, pelo menos no mundo ocidental, com os hebreus. Fora das muitas divindades que povoavam o próximo Oriente Médio, Javé, o Deus de uma pequena tribo de nômades vieram por diante.
O quinto período  - Monoteísmo Universal  - saiu da religião dos hebreus. O cristianismo foi o resultado da universalização da religião hebraica, e domina o mundo ocidental nos últimos vinte séculos.A principal diferença de Javé e Jesus é que o primeiro era completo, abrangendo o bem eo mal. A melhor maneira de expressar essa idéia é dizer que Javé estava acima do bem e do mal. Ele não habita na dualidade, mas na unidade. A religião cristã, com seu Deus exclusivamente bom - Jesus - passou a exigir a convocação do demônio. Na dualidade que vivemos, não há frio, sem calor, sem luz sem a escuridão, bom sem o mal. Clemente de Roma, um dos primeiros pais da igreja é citado dizendo que Deus governa o mundo com Cristo na mão direita e o diabo na esquerda. Como consequência, o diabo aparece quatro vezes no Antigo Testamento e sessenta e seis no Novo Testamento.
O sexto período - Individuação - está amanhecendo no mundo com o desenvolvimento do individualismo em seres humanos. Mais e mais pessoas estão se distanciando daquilo que poderíamos chamar de rebanho e procurando seus caminhos individuais para procurar a felicidade eo cumprimento de suas vidas. Edward Edinger em seu excelente livro "A Criação da Consciência", afirma que "a sociedade humana não pode sobreviver por muito tempo, a menos que seus membros estejam psicologicamente contido dentro de um mito vivo central." O problema é que o mito cristão, que sustentou a civilização ocidental por dois mil anos, está perdendo sua atração. Seus símbolos estão ficando velhos, e não vem sendo renovados. Como resultado, nossa civilização estão passando por uma fase quase caótica. Os seres humanos estão mais e mais materialistas, e eu arrisco a dizer que o Deus que governa o mundo atual é o dinheiro.
Um novo mito, de acordo com as tendências individualistas dos modernos seres humanos está ganhando reconhecimento. Este é o mito arturiano, que eu chamo de novo, porque ele começou a se espalhar no mundo ocidental no século XII, embora tenha raízes antigas nos mitos celta e irlandês.Quando Parsifal e os cavaleiros da Mesa Redonda partiram em sua busca pelo Graal, eles foram instruídos a seguir um caminho individual, que nunca havia sido percorrido. Era considerado vergonhoso escolher uma rota já percorrida. Este conselho combina perfeitamente com a psicologia de Jung. Para ele, cada pessoa tem de escolher o seu caminho exclusivo em sua jornada de individuação.
Roberto Lima Netto
Autor de "O Pequeno Príncipe para Gente Grande"e "Os Segredos da Bíblia".
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