segunda-feira, 16 de abril de 2012

Vamos alavancar as idéias de Jung no Brasil?

Acabo de fazer uma pesquisa no Google, e o resultado que encontrei para o Brasil, buscando as palavras Jung e Freud encontrei (média de pesquisas mensais nos últimos 12 meses):
·         Freud: 246.000
·         Jung: zero (nada consta, irrelevante).
Quem quiser repetir a pesquisa vá ao: https://adwords.google.com.br.
Sempre ouço que Jung está crescendo no Brasil, e estou convicto disso. Porém, estaremos nos enganando se acharmos que isso pode ocorrer rapidamente sem um trabalho concentrado de nossa parte. Enquanto a maioria de nossas universidades der pouco espaço para as idéias junguianas, não podemos esperar milagres.
Estou convencido da importância de um trabalho concentrado para popularizar Jung no Brasil. Isso é bom para os analistas junguianos, mas também para todos os brasileiros. Essa foi a idéia na criação da Academia do Conhecimento. Com nossos cursos, inclusive pela internet, e com os DVDs pretendemos atingir um público leigo, não apenas os junguianos de carteirinha. Temos que popularizar Jung.
Solicito que todos nós nos concentremos no esforço de convidar amigos para participar do nosso blog: www.aacademiadoconhecimento.blogspot.com.
É muito importante.
Roberto Lima Netto
Autor do “Pequeno Príncipe para Gente Grande.”, Ed. BestSeller, 4ª edição.
rlimanetto@hotmail.com

Era Jung um místico?

Jung sempre teve a preocupação de ser visto como um cientista e psicólogo prático. Entretanto, devido as suas incursões pela questão religiosa, muitos o acusavam de misticismo. Nos dias de hoje, isso talvez seja um elogio, mas não em meados do século XX. Especialmente por querer que suas idéias fossem consideradas por outros psicólogos e cientistas de sua época, a pecha de místico o desgastava.
Sendo seu objetivo cuidar da saúde mental das pessoas, Jung não podia se furtar de falar sobre religião, matéria que, mesmo fazendo questão de afirmar não ser teólogo, ele enriqueceu com importantes contribuições. Aliás, Jung afirmou que não conhecia qualquer pessoa na segunda metade da vida que pudesse resolver seus problemas existenciais sem se ligar a uma força maior, e aconselhou diversos clientes a retornar a sua religião de origem.
Se a psicologia se propõe a melhorar o ser humano, torná-lo mais consciente, mais feliz, seu objetivo necessariamente se confunde com o das religiões. Jung percebeu isso e tentou influenciar a Igreja Católica, através de alguns amigos padres, buscando uma renovação que revertesse a situação de decadência pelo qual passava o Cristianismo, e que ainda passa na época atual.
Isso não foi possível. Quando Jung escreveu “Resposta a Jo”, a indignação de alguns amigos ligados à Igreja provocou o definitivo fim dessa tentativa de aproximação. Uma pena para o Vaticano e para todos os cristãos.
É interessante mencionar como essa obra foi escrita. Jung estava amadurecendo a idéia há tempos, mas sem coragem de seguir em frente. As pesadas críticas que recebeu com seu livro “Aion” o convenceram de que certas idéias muito avançadas eram mal compreendidas. Em um assunto tão carregado de emoção, não se pode esperar um julgamento racional. Se “Aion” despertou tantas críticas, o que esperar de “Resposta a Jó?”
Sua resistência ao livro foi vencida pelo Self, que o submeteu a uma febre que só terminou quando, três dias depois, o livro estava terminado. Ele teve que ser escrito para livrá-lo do mal. Jung se livrou da febre, mas não das pesadas críticas e desentendimentos com amigos, como o Padre White seu principal parceiro na luta para fazer suas idéias serem consideradas pelo Vaticano.
Jung teve o sonho de colaborar com o desenvolvimento do Cristianismo, tornando-o uma religião mais viva, pois considerava que os símbolos em que se baseava por dois mil anos estavam desgastados e desgastando ainda mais.
Roberto Lima Netto
Autor do “Pequeno Príncipe para Gente Grande.”, Ed. BestSeller, 4ª edição.
rlimanetto@hotmail.com

sábado, 14 de abril de 2012

O Summum Bonun

O Summum Bonun

Existem vários mistérios no mundo que desafiam qualquer tentativa de explicação. O maior deles, em todos os sentidos, é o infinito. Ao longo da história da humanidade, para evitar a angústia natural que se tem frente ao desconhecido e para poder construir uma civilização, o homem formulou diversas idéias para explicar este infinito. que, qualquer explicação é como uma foto que se tira do infindável. È possível se estudar uma foto, aprofundar-se no conhecimento deste fragmento e chegar a conclusões que se pretendem universais. Contudo, por maior que seja a grande angular da câmara, este enfoque sempre será limitado, haverá sempre algo que fica de fora, haverá sempre um outro ponto de perspectiva, igualmente verdadeiro, que percebe e entende aquele infinito de forma completamente diferente.

Uma destas fotos foi tirada por santo Agostinho. Dizia o bispo de Hipona que Deus era o Summum Bonum, o inteiramente Bom. Para explicar a existência do Mal no mundo, ele apelava para o conceito de privatio boni, a carência do bem. Dizia que o Mal não provinha do Criador, mas da criatura, que o Mal não tinha essência, sendo apenas o Não Ser, a ausência de Bem, enquanto Deus era o Ser por excelência. Esta versão sobre o Incognoscível, largamente aceita pela Igreja Católica, traz em si um problema: coloca grande parte do mundo, onde o Mal impera, na esfera do Não Ser.

Uma outra corrente teológica, também aceita dentro da ortodoxia católica, diz ser impossível afirmar o que quer que seja a respeito de Deus, nem mesmo que Ele seja Bom, pois a bondade é uma qualidade humana, e Deus estaria acima de qualquer classificação, para além do Bem e do Mal, usando uma terminologia nietzchiana. A assim chamada teologia apofática tem como um de seus baluartes o pensamento de Dioniso Pseudo-Areopagita. Dizia este teólogo que Deus não era nem o Ser, nem o Não Ser, mas aquele que criou o Ser e o Não Ser.

Desde Freud, conseguimos facilmente perceber que as histórias da mitologia grega (Édipo, Narciso, etc) podem ser entendidas como metáforas que denunciam estruturas psíquicas básicas do homem. Afinal, vemos estas histórias como algo literário, fantasioso. Esquecemos que estes mitos são relatos que nos revelam o entendimento que outra civilização teve sobre o divino, isto é, uma fotografia do infinito tirada de outro ponto de vista. Temos normalmente pudor de analisar as histórias bíblicas do ponto de vista psicológico, com receio de estar sendo desrespeitoso com uma viva.

Carl Gustav Jung, negando-se a entrar na discussão teológica, entendia que todos os mitos religiosos são formas de que o homem se vale para trabalhar o seu material arquetípico. Os deuses seriam assim imagens arquetípicas e em particular a figura do Deus monoteísta se aproximaria do arquétipo do Self, do Todo, onde reinaria o paradoxo absoluto.

Nosso pensamento racional tende a evitar pensamentos paradoxais. Frente a um paradoxo, queremos sempre dizer que um dos lados está certo e o outro é um engano. Contudo, os estudos mais recentes de física quântica demonstram que um elétron é ao mesmo tempo uma partícula material e uma onda elétrica, ou que um elétron pode estar presente em dois lugares diferentes ao mesmo tempo, evidência inconcebíveis dentro da física newtoniana. Dizer que Deus é o Ser perfeito e, ao mesmo tempo, que Ele é capaz de errar e evoluir, é certamente um paradoxo. Mas se Deus é o Todo, Ele não é apenas o começo e o fim, o alfa e o ômega, mas todo o alfabeto, todo o processo evolutivo com seus erros e acertos. E se entendermos as histórias bíblicas de Deus como imagens do arquétipo do Self, estudá-las, ver a evolução que esta imagem sofreu ao longo do processo civilizatório humano, não seria uma maneira de entender como o homem tenta se aproximar do Self, enfim, individuar-se?

Antônio Aranha

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Qual o interesse de Deus no sofrimento do homem?



Frente à pergunta se acreditava ou não em Deus, Jung sempre se recusou a discutir sobre existência desta entidade no mundo espiritual, alegando que esta era uma questão a ser pensada pelos teólogos. Contudo, afirmava que a psique era algo real, e Deus uma realidade psíquica. Dizia também que, através dos mitos, era possível se estudar o universo psíquico, uma vez que as figuras mitológicas eram imagens arquetípicas.

No Livro de Jó, na Bíblia, podemos ler a trágica história de um homem justo e honesto, temente a Deus, que é condenado a sofrer as mais cruéis moléstias, sem nada dever, apenas para que Iahweh pudesse vencer uma aposta que fizera com seu filho Satanás. Isto é, Iahweh colocara o homem para sofrer, a fim de solucionar  um problema da esfera divina, a disputa com seu filho.

Analisando esta história em seu livroResposta a Jó”, Jung entendeu que Iahweh havia cometido uma injustiça com o homem, sendo infiel com o seu fidelíssimo Jó. Levantou então a hipótese de que Deus teria encarnado como Cristo no homem, para poder pagar a dívida que tinha com a humanidade por conta de sua injustiça, sofrendo em sua carne todos os males que fizera Jó sofrer. Isto é, que Cristo teria sido a resposta que Iahweh deu a Jó.

Esta hipótese junguiana nos leva a três conclusões:

- que Deus é um ser em evolução, capaz de errar e aprender com seus erros,
- que seu autoconhecimento se daria na medida em que Ele se contemplasse na criatura e refletisse sobre sua conduta,
- que sua evolução ocorreria através do sofrimento humano (Paixão de Jesus).

Seria então o homem o campo de estudo ético de Deus, uma parte sua, um órgão pelo qual pôde provar do fruto proibido e conhecer o seu próprio mistério? Seria o homem, a imagem e semelhança de Deus, o espelho onde Ele pode se reconhecer?

Partindo das hipóteses de Jung, nos propusemos dois desafios. Na primeira parte do livro, estudamos os complexos mitos gregos, para tentar verificar se, no antigo entendimento clássico sobre o que era o divino, as tragédias humanas também teriam alguma função para os deuses. Será que aquelas terríveis histórias de sofrimento humano, contadas pelos poetas trágicos, serviriam para purificar os deuses?

Na segunda parte do livro, nos empenhamos em seguir as angústias de Jó, para nos questionar sobre qual seria a função do Mal dentro de um monoteísmo que prega um Deus onipresente, onipotente e onisciente. Se Ele tudo pode, por que permite a existência do Mal? Enfim, qual o seu interesse no sofrimento do homem?

É assim com enorme prazer que anuncio o lançamento do Livro Grego de Jó, que está saindo na coleção junguiana da Editora Vozes. A noite de autógrafos será no dia 18 de abril de 2012, às 19:00h, na livraria Argumento do Leblon, rua Dias Ferreira 417. Sua presença será muito bem vinda.


Antonio Aranha



Amigos da Academia
O Antônio Aranha está nos convidando para o lançamento de seu livro "O Livro Grego de Jó - Qual o interesse de Deus no sofrimento do homem?" 
Local: Livraria Argumento - R. Dias Ferreira 417 -Leblon?RJ
Data e Hora: Dia 18/Abril às 19h.