sábado, 16 de junho de 2012

Vida espiritual sem filiação a uma igreja


O homem moderno está se afastando do espírito. Ele entronizou um novo deus em sua vida - o dinheiro. Enquanto isso, as igrejas cristãs vão perdendo terreno nos países ocidentais, e a vida espiritual é, cada vez mais, relegada ao porão. Alguns resignam-se a uma religião formal, ir às missas, aos cultos e rituais, se iludindo que isto é suficiente. Vivem tentando não pensar sobre a vida, tentando não perceber que suas existências estão vazias. Outros optam por abraçar religiões orientais - Budismo, Hinduísmo e outros.
Nietzsche disse que "Deus está morto." De acordo com Jung, o problema do nosso tempo é que os símbolos do cristianismo estão desgastados. Em suas memórias, ele relata sua visita aos índios Pueblos nos EUA. Eles adoravam o sol, e não entendiam a razão de o homem branco querer interferir com a sua religião. Estavam convencidos de que, se não rezassem para o sol, ele deixaria de se levantar, e a humanidade pereceria. Eles tinham um objetivo claro na vida: salvar a humanidade.
O objetivo de muitas pessoas no século XXI, nesta época de materialismo exacerbado, é ganhar mais dinheiro para comprar um carro novo, para comprar uma casa nova, para comprar sei lá o que. Como este objetivo é tão mais pobre quando comparado com o dos índios Pueblo, cujo objetivo é salvar a humanidade. Mesmo se você não acreditar que os índios Pueblo estão realmente salvando a humanidade, eles acreditam, e é isso o que importa para dar sentido as suas vidas.
As pessoas modernas, sem acreditar nas igrejas, preenchem suas vidas com a busca da riqueza, ou com a luta por uma causa. Mesmo que a cause seja meritória - ecologia, por exemplo - Isso não pode substituir a necessidade de progredir em sua jornada espiritual. Afinal, a razão de nossa vinda à Terra é crescer espiritualmente.
Saint Exupery, em seu famoso livro, "O Pequeno Príncipe", conta a estória do acendedor de lampiões, que passou a vida apagando e acendendo as lâmpadas, do astrônomo que queria ter mais e mais estrelas, e passava o dia catalogando-as, do rei de um asteroide que não tinha súditos. Todos enchiam seu tempo, evitando pensar sobre o propósito da vida. Quantos seres humanos adotam essa prática, trabalhando dezesseis horas por dia para ganhar mais e mais dinheiro que eles não podem levar à tumba, evitando pensar na vida. Se parassem para pensar, eles iriam descobrir que suas vidas estavam vazias e poderia entrar em depressão.
Jung disse que não conhecia qualquer pessoa vivendo uma crise psicológica na segunda metade da vida que conseguisse resolver seu problema sem atenção à vida espiritual, sem viver uma vida simbólica.
Os seres humanos podem e devem cultivar a vida do espírito, independentemente de se filiar a uma igreja. Você não precisa ser um monge, entrar para um convento, deixando o seu trabalho e sua empresa. Até os monges tem uma vida ativa, dedicando-se à agricultura, à culinária, realizando tarefas rotineiras, mas também reservando tempo para as orações e meditações.
Como viver uma vida espiritual, uma vida simbólica? Jung aconselhou alguns clientes a retornar à prática de uma religião institucional, mas esta receita não serve para todos. A desconfiança nas igrejas é muito difícil de ser revertida; quando os deuses deixam o Olimpo, o retorno é extremamente difícil.
Os seres humanos precisam, para manter uma vida espiritual ativa, a cultivar uma vida simbólica. Como? Atenção aos sonhos, pratica de imaginação ativa, da meditação. Isso é viver uma vida simbólica. A oração também é uma boa receita, uma forma de meditação.
Felicidade. Esta meta que tantos buscam pode ser conseguida pelo desenvolvimento da vida do espírito.

Roberto Lima Netto, autor de "O Pequeno Príncipe para Gente Grande" e "Os Segredos da Bíblia", livros junguianos que objetivam  popularizar as ideias de Jung. Quem sabe, com isso conseguimos melhorar o mundo?

Um comentário:

  1. Olá Roberto.
    Conheci seu blog hoje, em função da minha curiosidade sobre a metodologia de Jung.
    Na realidade, faço terapia atualmente como parte de meu tratamento de depressão (que me acompanha há 7 anos), e meu terapeuta é Freudiano.
    Sinceramente, não tenho sido convencido que as terapias estão "dando certo". Me sinto como se chegasse lá, descarregasse um milhão de coisas já sabendo o que o terapeuta vai responder ou comentar. E bingo! Dito e feito. é o que acontece.
    Comecei então a buscar sobre Freud, e foi quando "descobri" Jung e daí, seu blog.
    Este artigo sobre a religião me chamou atenção.
    Durante todo este tempo em que conVIVO com a depressão, o fato de estar por exemplo em uma missa, é algo que me acalma, e faz com que os sentimentos de angústia e tristeza desapareçam pelo menos enquanto estou vivendo aquele momento, e depois que saio de lá também.
    Mas não leva muito tempo para que "a ficha caia" e de repente eu perceba algumas coisas ao meu redor, e é como se eu estivesse vendo coisas erradas ou sem sentido, e estivesse sendo conivente com aquilo, desafiando até mesmo a minha inteligência.
    Enfim... o que eu acho que, pelos três artigos seus de 2012 que acabo de ler sobre Freud e Jung, começo a pensar que, meu caso é bem mais "junguiniano" que "freudiano"...

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