sábado, 28 de julho de 2012

Descida ao inferno


Os místicos dizem que para se chegar ao céu temos que passar pelo inferno. Psicoterapeutas também mencionam que o processo de análise profunda é doloroso, uma metáfora para a jornada ao inferno. Afinal, não é nada fácil enfrentar seus fantasmas.
Você provavelmente conhece a divisão da vida humana em duas partes. No primeiro período da vida nossa tarefa é fortalecer o nosso ego, criando um espaço para nós na sociedade. É tempo de nos consolidar em uma profissão, ganhar dinheiro, garantir a independência financeira e constituir família, todos os objetivos externos. Na segunda metade da vida, você deve cuidar de sua alma, uma jornada para o céu que passa pelo inferno.
Um velho costume da Índia pregava que, no sexagésimo ano de vida, deveríamos abandonar nossas atividades no mundo exterior e voltar para dentro, para o mundo interior, para cuidar da alma com uma vida ascética e de meditação. Alguns até mesmo se recolhiam a um ashram.
Em nossa sociedade ocidental, muito materialista, as crises de meia idade, mesmo as mais fortes, não mudam a vida de muitos. Eles continuam a perseguir objetivos materiais: tentando ganhar mais dinheiro mesmo que eles não precisam mais, tentando subir a escada profissional à procura de reconhecimento externo e tentando acumular mais bens. Trabalham pesado, provavelmente para não deixar tempo para pensar na vida. Se pensassem, poderiam ficar desesperados ao reconhecer que toda aquela riqueza por que tanto lutam não lhes trará felicidade.
Sempre achei que a divisão da vida em duas metades era uma divisão cronológica, que iria começar a segunda parte em torno de trinta e cinco ou quarenta anos quando ocorre a crise de meia-idade. Na realidade, poderíamos pensar em três fases: juventude, meia-idade e velhice. Na fase do meio, ainda podemos nos enganar, driblar a crise de meia-idade com mais trabalho, enchendo nosso tempo para não pensar na vida.
Richard Rohr, um frade franciscano, nos ensina de outra forma. Ele postula que nossa vida pode ser dividida em duas partes, mas que esta divisão não é cronológica. Alguns anciãos podem ainda não ter entrado na idade adulta. Eles são jovens de sessenta anos ou mais, mesmo que seus corpos mostrem o envelhecimento.
Você percebeu que nós encontramos dois tipos de pessoas idosas na vida? Uns que reclamam da vida - os velhos chatos - e outros que nos dão prazer de conversar com eles - os velhos sábios. Infelizmente em nossa sociedade ocidental, muito voltada para o mundo exterior, a maioria dos velhos pertence ao primeiro grupo. O segundo grupo, o sábio, é raramente encontrado. Como não consigo encontrar pessoalmente com muitos velhos sábios, até porque alguns já morreram, tento ler seus livros para absorver um pouco de sabedoria. Aprendendo com eles, pretendo tornar menos dolorosa minha passagem pelo inferno.
Richard Rohr, um velho sábio, escreveu recentemente um novo livro - Falling Upwards -ainda não traduzido para o português. O livro é fantástico e vale a pena ser lido.
Minha lista de pessoas que escolhi para gurus é pequena: Jesus, o principal deles, Buda, Carl Jung e Paramahansa Yogananda. Já minha lista de velhos sábios é maior. Depois de ler Falling Upwards, eu estou adicionando Richard Rohr a esta lista.
Roberto Lima Netto, autor de "O Pequeno Príncipe para Gente Grande" em sua quarta edição, e "Os Segredos da Bíblia", livros junguianos recentemente editados nos USA - www.amazon.com autor/rlimanetto

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