Os místicos dizem que para se chegar ao céu temos que
passar pelo inferno. Psicoterapeutas também mencionam que o processo de análise
profunda é doloroso, uma metáfora para a jornada ao inferno. Afinal, não é nada
fácil enfrentar seus fantasmas.
Você provavelmente conhece a divisão da vida humana em
duas partes. No primeiro período da vida nossa tarefa é fortalecer o nosso ego,
criando um espaço para nós na sociedade. É tempo de nos consolidar em uma
profissão, ganhar dinheiro, garantir a independência financeira e constituir
família, todos os objetivos externos. Na segunda metade da vida, você deve
cuidar de sua alma, uma jornada para o céu que passa pelo inferno.
Um velho costume da Índia pregava que, no sexagésimo ano
de vida, deveríamos abandonar nossas atividades no mundo exterior e voltar para
dentro, para o mundo interior, para cuidar da alma com uma vida ascética e de meditação.
Alguns até mesmo se recolhiam a um ashram.
Em nossa sociedade ocidental, muito materialista, as
crises de meia idade, mesmo as mais fortes, não mudam a vida de muitos. Eles
continuam a perseguir objetivos materiais: tentando ganhar mais dinheiro mesmo
que eles não precisam mais, tentando subir a escada profissional à procura de
reconhecimento externo e tentando acumular mais bens. Trabalham pesado,
provavelmente para não deixar tempo para pensar na vida. Se pensassem, poderiam
ficar desesperados ao reconhecer que toda aquela riqueza por que tanto lutam
não lhes trará felicidade.
Sempre achei que a divisão da vida em duas metades era
uma divisão cronológica, que iria começar a segunda parte em torno de trinta e
cinco ou quarenta anos quando ocorre a crise de meia-idade. Na realidade,
poderíamos pensar em três fases: juventude, meia-idade e velhice. Na fase do
meio, ainda podemos nos enganar, driblar a crise de meia-idade com mais
trabalho, enchendo nosso tempo para não pensar na vida.
Richard Rohr, um frade franciscano, nos ensina de outra
forma. Ele postula que nossa vida pode ser dividida em duas partes, mas que
esta divisão não é cronológica. Alguns anciãos podem ainda não ter entrado na
idade adulta. Eles são jovens de sessenta anos ou mais, mesmo que seus corpos
mostrem o envelhecimento.
Você percebeu que nós encontramos dois tipos de pessoas
idosas na vida? Uns que reclamam da vida - os velhos chatos - e outros que nos
dão prazer de conversar com eles - os velhos sábios. Infelizmente em nossa
sociedade ocidental, muito voltada para o mundo exterior, a maioria dos velhos
pertence ao primeiro grupo. O segundo grupo, o sábio, é raramente encontrado.
Como não consigo encontrar pessoalmente com muitos velhos sábios, até porque
alguns já morreram, tento ler seus livros para absorver um pouco de sabedoria.
Aprendendo com eles, pretendo tornar menos dolorosa minha passagem pelo
inferno.
Richard Rohr, um velho sábio, escreveu recentemente um
novo livro - Falling Upwards -ainda
não traduzido para o português. O livro é fantástico e vale a pena ser lido.
Minha lista de pessoas que escolhi para gurus é pequena: Jesus,
o principal deles, Buda, Carl Jung e Paramahansa Yogananda. Já minha lista de
velhos sábios é maior. Depois de ler Falling Upwards, eu estou adicionando
Richard Rohr a esta lista.
Roberto Lima Netto, autor de "O Pequeno
Príncipe para Gente Grande" em sua quarta edição, e "Os Segredos da
Bíblia", livros junguianos recentemente editados nos USA - www.amazon.com
autor/rlimanetto
Nenhum comentário:
Postar um comentário