segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Jesus é Deus? Ou um ser muito iluminado?


Jesus era um pensador muito profundo e alguns dos seus ditos mais enigmáticos são difíceis de entender. Já mencionamos alguns neste blog, explicando-os com a ajuda da psicologia junguiana, uma ferramenta que não estava disponível nos primeiros séculos.
Na minha modesta opinião, os dogmas da Igreja foram concebidos para atrair seguidores, e tem mais a ver com São Paulo e Santo Agostinho do que com as ideias de Jesus.
Quando eu tinha sete anos, assistindo a uma aula de preparação para a Primeira Comunhão, o padre disse que se um bebê morrer sem ser batizado não poderia ir para o céu.
"Mas ... se não houvesse sacerdote na área?" Eu insisti.
"Se ele não for batizado, ele não pode ir para o céu", disse o sacerdote, dogmaticamente.
"Isso é injusto. Ele não viveu o suficiente para pecar."
Na época, eu era jovem demais para argumentar que, sendo Jesus um Deus de amor, essa posição estava errada.
De qualquer forma, esse pensamento obtuso não prevalece mais na Igreja. Hoje ela reconhece que, mesmo se a pessoa não conhece Cristo, ela pode ser salva através de Cristo. Grande progresso.
Mas a evolução continua. Há uma minoria dentro da igreja católica, que afirma que você não precisa ser salvo através de Cristo. Eles afirmam que algumas pessoas iluminadas - por exemplo, Buda - podem ser colocadas em um nível paralelo a Jesus.
Tudo isso tem a ver com uma discussão muito antiga que estava quente nos primeiros séculos depois da morte de Cristo: É Jesus um Deus?
Os três Evangelhos sinóticos, Marcos, Mateus e Lucas, nunca mencionaram explicitamente a divindade de Jesus. Chamam-lhe "Filho de Deus" e "Messias", termos que designavam o rei humano de Israel.
O Evangelho de João, escrito alguns anos após os evangelhos sinópticos, foi o primeiro a afirmar que Jesus era Deus.
Para entender a controvérsia, temos que analisar a situação dos anos que se seguiram a morte de Jesus. No Antigo Testamento, há muitos casos de profetas falando com Deus através de sonhos ou visões. Só para mencionar alguns, Jacob e sua luta com o anjo de Deus, Moisés, Isaías, Jeremias, Daniel e vários outros. No Novo Testamento, temos São Paulo na estrada de Damasco, e o autor do Apocalipse.
Javé era um Deus que você devia amar, mas era melhor temer. Jesus pregou o Deus de amor. Isso provavelmente deu coragem a muitas pessoas para buscar um contato direto com Deus. Era uma época em que proliferou o gnosticismo.
Não se pode fortalecer uma igreja com tantas interpretações diferentes. No interesse de consolidação, a Igreja reservou para si o monopólio de falar com Deus. Qualquer um que divergisse dos dogmas propostos pela linha dominante era marcado como herético ou gnóstico. Este ponto foi reforçado no século IV, com o apoio do imperador Constantino, quando, no Concílio de Nicéia, os bispos escolheram os livros para compor a Bíblia. Os chamados livros canônicos.
O Evangelho de Tomé não foi incluído. Pior, a Igreja decidiu queimar todos os livros que desviavam da linha oficial. Felizmente, algumas obras foram preservadas e encontradas em 1945 em Nag Hammadi, no Egito. Entre as muitas pérolas encontradas, estava o Evangelho de Tomé, um conjunto de 114 ditos de Jesus que divergem do Evangelho de João em um ponto fundamental: Jesus foi considerado um homem iluminado por Deus, mas não Deus. Jesus mesmo postulou que, com desenvolvimento adequado, todo ser humano pode ser igual a ele.
Não tenho espaço neste post para ir mais fundo neste assunto, mas, se você estiver curioso e quiser saber mais, sugiro que leia o excelente livro de Elaine Pagels: "Beyond Belief".
Roberto Lima Netto, é autor de "O Pequeno Príncipe para Gente Grande" em sua quarta edição, e "Os Segredos da Bíblia", livros junguianos recentemente editados nos USA e oferecidos pela Amazon.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Em busca da felicidade


Em nossa infância, nossos pais são vistos como deuses, e os deuses não têm defeitos, não cometem erros. Se a criança for punida, ainda que injustamente, ela acha que mereceu a pena. Um pai chega em casa bêbado, de mau humor e dá uma surra no filho. Ele não sabe o motivo, não entende a razão do castigo, mas tem certeza que fez alguma coisa errada, que mereceu a punição. Afinal, os deuses (pais) não podem errar e a criança fica convencida de que fez algo que justificou a punição.