Discutia no Facebook com meu jovem amigo Ponzi sobre o filme “E O Vento levou”. Ele dizia: “Meu Deus !!! Que tragédia grega !!! Nunca vi um filme com mais desgraça que esse. Nem um finalzinho feliz pra melhorar”.
Quando argumentei que a vida não é um conto de fadas, e que a literatura e o cinema passam lições da vida como ela é, ele voltou dizendo que “filmes são feitos para sonhar. Sonhar, sim, faz nos afastar da realidade e fazer com que consigamos lidar melhor com a vida como ela é”.
O Ponzi está certo; é bom sonhar, e também gosto de ler histórias com final feliz. Os romances que até hoje escrevi acabam em final feliz. Mas isso não invalida os dramas da literatura e do cinema, que nos preparam para a vida.
Quer um exemplo? Eu tinha 21 anos, estava no auge de minha carreira esportiva, treinando para participar do campeonato brasileiro de vôlei. Seria provavelmente titular da seleção mineira. Tudo azul?. Peguei uma hepatite. Cama. Você consegue imaginar minha frustração? Minha depressão? Em casa, em repouso absoluto, meu divertimento era a leitura. Um dos livros me impactou fortemente: “O Velho e o Mar” de Hemingway.
O livro conta a história de Santiago, um velho pescador em uma maré de pouca sorte. Não teve hepatite, mas não conseguia pegar peixes. Em uma comunidade de pescadores pobres, até sua sobrevivência fica comprometida se você passa 84 dias sem fisgar um único peixe. Até seu jovem ajudante foi proibido pela família de sair com ele. O velho dava azar. Santiago ia pescar, agora sozinho, e nada conseguia. Em uma comunidade pobre, a solidariedade o sustentava. Santiago sobrevivia de favor, e isso feria seu orgulho.
Um dia ele saiu para o mar, resolvido a somente retornar com um peixe, ou morrer no mar. Pegou um peixe enorme, maior que seu barco. O peixe era valente. Lutava. Santiago resistia. Dia, noite, dia, noite. Mãos em carne viva para segurar a corda. Ombros igualmente feridos. Santiago não desistia. Nem o peixe. Há se tivesse o menino ajudante! Nem comida tinha mais. Mas não desistiria. Nunca.
Santiago é vitorioso. Começa o retorno com o maior peixe que jamais vira em toda sua vida. Está muito longe da costa. Quando se sentia vitorioso, com o troféu amarrado ao lado do barco, os tubarões atacam. Outra briga. Dia, noite. Usa o remo, amarra a faca na ponta. Quebra remo, perde faca. Vê seu troféu ser devorado, sem armas para impedir. Chega a praia. Ele, o barco e o esqueleto do maior peixe que jamais vira. Vai dormir. Exausto. Derrotado.
No dia seguinte, enquanto Santiago ainda dorme, os pescadores olham o esqueleto do imenso peixe amarrado ao barco. Admiram. Final infeliz!
A vida é uma luta inglória. A morte sempre ganha. Jesus morreu na cruz. Drama. Tragédia. Mas será que Ele foi derrotado?
Roberto Lima Netto
rlimanetto@hotmail.com