O Summum Bonun
Existem vários mistérios no mundo que desafiam qualquer tentativa de explicação . O maior deles, em todos os sentidos , é o infinito . Ao longo da história da humanidade , para evitar a angústia natural que se tem frente ao desconhecido e para poder construir uma civilização , o homem formulou diversas idéias para explicar este infinito . Só que , qualquer explicação é como uma foto que se tira do infindável . È possível se estudar uma foto , aprofundar-se no conhecimento deste fragmento e chegar a conclusões que se pretendem universais . Contudo , por maior que seja a grande angular da câmara , este enfoque sempre será limitado, haverá sempre algo que fica de fora , haverá sempre um outro ponto de perspectiva , igualmente verdadeiro , que percebe e entende aquele infinito de forma completamente diferente .
Uma destas fotos foi tirada por santo Agostinho. Dizia o bispo de Hipona que Deus era o Summum Bonum, o inteiramente Bom . Para explicar a existência do Mal no mundo , ele apelava para o conceito de privatio boni, a carência do bem . Dizia que o Mal não provinha do Criador , mas da criatura , que o Mal não tinha essência , sendo apenas o Não Ser , a ausência de Bem , enquanto Deus era o Ser por excelência . Esta versão sobre o Incognoscível , largamente aceita pela Igreja Católica , traz em si um problema : coloca grande parte do mundo , onde o Mal impera, na esfera do Não Ser .
Uma outra corrente teológica , também aceita dentro da ortodoxia católica , diz ser impossível afirmar o que quer que seja a respeito de Deus , nem mesmo que Ele seja Bom , pois a bondade é uma qualidade humana , e Deus estaria acima de qualquer classificação, para além do Bem e do Mal , usando uma terminologia nietzchiana. A assim chamada teologia apofática tem como um de seus baluartes o pensamento de Dioniso Pseudo-Areopagita. Dizia este teólogo que Deus não era nem o Ser , nem o Não Ser , mas aquele que criou o Ser e o Não Ser .
Carl Gustav Jung, negando-se a entrar na discussão teológica , entendia que todos os mitos religiosos são formas de que o homem se vale para trabalhar o seu material arquetípico. Os deuses seriam assim imagens arquetípicas e em particular a figura do Deus monoteísta se aproximaria do arquétipo do Self, do Todo , onde reinaria o paradoxo absoluto .
Antônio Aranha
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