Jesus era um pensador muito
profundo e alguns dos seus ditos mais enigmáticos são difíceis de entender. Já
mencionamos alguns neste blog, explicando-os com a ajuda da psicologia
junguiana, uma ferramenta que não estava disponível nos primeiros séculos.
Na minha modesta opinião, os
dogmas da Igreja foram concebidos para atrair seguidores, e tem mais a ver com
São Paulo e Santo Agostinho do que com as ideias de Jesus.
Quando eu tinha sete anos,
assistindo a uma aula de preparação para a Primeira Comunhão, o padre disse que
se um bebê morrer sem ser batizado não poderia ir para o céu.
"Mas ... se não
houvesse sacerdote na área?" Eu insisti.
"Se ele não for
batizado, ele não pode ir para o céu", disse o sacerdote, dogmaticamente.
"Isso é injusto. Ele
não viveu o suficiente para pecar."
Na época, eu era jovem
demais para argumentar que, sendo Jesus um Deus de amor, essa posição estava
errada.
De qualquer forma, esse
pensamento obtuso não prevalece mais na Igreja. Hoje ela reconhece que, mesmo
se a pessoa não conhece Cristo, ela pode ser salva através de Cristo. Grande
progresso.
Mas a evolução continua. Há
uma minoria dentro da igreja católica, que afirma que você não precisa ser
salvo através de Cristo. Eles afirmam
que algumas pessoas iluminadas - por exemplo, Buda - podem ser colocadas em um
nível paralelo a Jesus.
Tudo isso tem a ver com uma
discussão muito antiga que estava quente nos primeiros séculos depois da morte
de Cristo: É Jesus um Deus?
Os três Evangelhos
sinóticos, Marcos, Mateus e Lucas, nunca mencionaram explicitamente a divindade
de Jesus. Chamam-lhe "Filho de Deus" e "Messias", termos
que designavam o rei humano de Israel.
O Evangelho de João, escrito
alguns anos após os evangelhos sinópticos, foi o primeiro a afirmar que Jesus
era Deus.
Para entender a
controvérsia, temos que analisar a situação dos anos que se seguiram a morte de
Jesus. No Antigo Testamento, há muitos casos de profetas falando com Deus
através de sonhos ou visões. Só para mencionar alguns, Jacob e sua luta com o anjo
de Deus, Moisés, Isaías, Jeremias, Daniel e vários outros. No Novo Testamento,
temos São Paulo na estrada de Damasco, e o autor do Apocalipse.
Javé era um Deus que você
devia amar, mas era melhor temer. Jesus pregou o Deus de amor. Isso
provavelmente deu coragem a muitas pessoas para buscar um contato direto com
Deus. Era uma época em que proliferou o gnosticismo.
Não se pode fortalecer uma
igreja com tantas interpretações diferentes. No interesse de consolidação, a
Igreja reservou para si o monopólio de falar com Deus. Qualquer um que divergisse
dos dogmas propostos pela linha dominante era marcado como herético ou
gnóstico. Este ponto foi reforçado no século IV, com o apoio do imperador
Constantino, quando, no Concílio de Nicéia, os bispos escolheram os livros para
compor a Bíblia. Os chamados livros canônicos.
O Evangelho de Tomé não foi
incluído. Pior, a Igreja decidiu queimar todos os livros que desviavam da linha
oficial. Felizmente, algumas obras foram preservadas e encontradas em 1945 em
Nag Hammadi, no Egito. Entre as muitas pérolas encontradas, estava o Evangelho
de Tomé, um conjunto de 114 ditos de Jesus que divergem do Evangelho de João em
um ponto fundamental: Jesus foi considerado um homem iluminado por Deus, mas não
Deus. Jesus mesmo postulou que, com desenvolvimento adequado, todo ser humano
pode ser igual a ele.
Não tenho espaço neste post
para ir mais fundo neste assunto, mas, se você estiver curioso e quiser saber
mais, sugiro que leia o excelente livro de Elaine Pagels: "Beyond
Belief".
Roberto Lima Netto, é autor de "O Pequeno
Príncipe para Gente Grande" em sua quarta edição, e "Os Segredos da
Bíblia", livros
junguianos recentemente editados nos USA e oferecidos pela Amazon.
Em João cap12 ver37-41 fala que Isaías viu a glória de Jesus,isaias cap6 ver9-10
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